Admiração...
A libido é um mar que nos cobre, nos navega e nos ameaça com seus piratas prontos a nos trair com seus oferecimentos adoráveis, suas musas, suas sereias, suas Iaras cantoras prestes a nos hipnotizar e afogar nas profundezas. A razão, senhora da ordem matemática da vida (por si só outra beleza) da mesma forma ou de outra, também nos oferece um mundo que ou nos salva ou nos abisma. Às vezes, são duas grandezas que se complementam. Noutras, se digladiam até matarem seu hospedeiro, como se fossem dois parasitas da vida. A libido quer prazer, sexo, a preservação genética. A razão quer parceria, a inteligência do outro para dar sentido à sua, a harmonia de um bom papo depois dos corpos desfeitos um sobre o outro. Eros, este deus individualista, irracional, é, em algumas ocasiões, tão inteligente que consegue governar a razão e fazer dela um de seus instrumentos tornando a arte e a poesia, olho e guia dos seus objetivos. Mas só em algumas e raras ocasiões.
Quando, por fim, restam os corpos nus sobre a cama, e olhos felizes exploram os vazios e os cheios, as saliências e reentrâncias, as chaves úmidas escondidas pelo pudor, os corações palpitam num gesto de admirável alegria por poderem poupar ao cérebro a tarefa árdua de querer, de desejar, coisa que corações querem para si. O que nem sempre é pacífico, porque somos sempre os instrumentos anônimos de uma luta inglória entre o desejo e a poesia, entre a natureza e a civilidade, entre a carne e a mente. Só temos um pouco de paz quando Eros se torna em nós, senhor tanto da beleza quanto da ciência.
Etiquetas: Internet
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